Por que a geração Z perdeu a felicidade – e como recuperá-la
- Renata Rivetti

- 9 de out.
- 3 min de leitura
Os jovens precisam continuar a viver movidos por sonhos e, se preciso, por pequenas ilusões para reencontrar a alegria

Em 2008, os economistas Andrew Oswald (da Universidade de Warwick) e David Blanchflower (Dartmouth College) popularizaram o conceito "Curva U de Felicidade".
O conceito da Curva U de Felicidade analisa como os níveis de felicidade variam em média ao longo da vida adulta das pessoas, traçando um padrão consistente em forma de "U" na maioria dos países estudados: o pico acontece na juventude, há uma crise na meia idade e a felicidade volta a aumentar em um nível elevado na terceira idade (após os 50 a 60 anos), podendo ser tão alta quanto na juventude, ou até mais.
Porém, na última década os pesquisadores perceberam que a curva estava se transformando, já que os jovens já não se sentiam mais felizes. Em alguns países desenvolvidos, jovens de 18 a 25 anos passaram a relatar níveis de felicidade mais baixos do que adultos mais velhos.
Mas o que está acontecendo com a geração Z e por que eles estão mais infelizes?
Um dos motivos óbvios é a crise do sentido na vida. Segundo a Harvard Graduate School of Education, 58% dos jovens adultos relataram ter experimentado pouca ou nenhuma sensação de propósito ou significado em suas vidas no mês anterior.
O mundo nunca teve tanta possibilidade de escolhas, porém, o sentimento é de falta, um vazio existencial que permeia a nossa sociedade. Vivemos a era digital, acesso a tecnologias, chegada da IA generativa e, ao invés dessa evolução nos trazer tempo para focarmos no que importa, estamos simplesmente sobrevivendo, seguindo a vida sem sentido ou propósito.
Estamos perdidos na infoxicação, nas redes sociais, no excesso de consumo. A busca por dopamina rápida e barata passou a funcionar como anestésico para o sofrimento gerado por uma existência sem sentido.
Procuramos desesperadamente o sentido DA vida (talvez a grande questão filosófica do ser humano) sem perceber que, talvez, o que realmente podemos construir é sentido NA vida.
19% dos jovens adultos relatam não ter ninguém em quem confiar para obter apoio social.
Não precisamos de um propósito raro e extraordinário, nem resolver o sentido da existência, mas podemos escolher viver uma experiência pessoal com consciência e significado, nos conectando com algo maior do que nós.
Para isso, o maior preditor dessa construção são as relações humanas mais profundas. Não é sobre ter milhares de amigos, seguidores no TikTok, mas ter um grupo de apoio, saber que temos com quem contar quando os desafios forem inevitáveis. Essa é outra crise da geração Z, que vive uma epidemia de solidão.
Segundo World Happiness Report 2025, 19% dos jovens adultos em nível global relataram não ter ninguém em quem confiar para obter apoio social. São conectados digitalmente, passam o dia com telas, mas com pouco afeto e pouca humanidade. Como encontrar sentido na vida, então, se se sentem sozinhos no mundo?
A crise da solidão e do sentido da vida andam juntos. Nossa sociedade não está entendendo a urgência e gravidade do tema e do impacto disso no futuro desses jovens e, claro, de nós como sociedade.
Além disso, para mim os principais pontos dessa infelicidade são que os jovens vivem ainda uma crise econômica, climática, desigualdade crescente, sobrecarga e pressão em relação a resultados.
Não podemos mais fechar os olhos para o tema ou achar que eles não aguentam nada. Eles estão sofrendo e precisam de nossa ajuda. Simplesmente querer que enfrentem o mundo sem medo não vai ajudar. É preciso assumir que estamos errando e que precisamos de mudanças.
A curva da felicidade não deveria estar achatada: os jovens precisam continuar a viver movidos por sonhos e, se preciso, por pequenas ilusões para reencontrar a alegria.
“É o poder contagiante da esperança, a antecipação, a energia, a euforia de estar mais uma vez à beira de um dia mais brilhante.”
Michelle Obama



