FastCompany Brasil - Além do presenteísmo, vivemos agora o ghostworking
- Renata Rivetti

- 22 de jul.
- 2 min de leitura
Não é possível ser feliz fingindo produtividade como forma de protesto silencioso contra um modelo em que não acreditamos

Vivemos uma crise global no mundo do trabalho. Estamos ocupados, exaustos, sobrecarregados, mas pouco engajados e encontrando cada vez menos sentido (ou nenhum) no que fazemos.
Trabalhamos para sobreviver, pagar contas, cumprir obrigações, com pouca motivação ou felicidade, tentando equilibrar uma rotina esvaziada de propósito com breves momentos de alegria.
Mas será que dá para ser feliz assim? Vivendo anestesiados, em um mundo desafiador que, por si só, já compromete nossa saúde mental?
Segundo o Relatório de Inovação no Trabalho de 2024, da Asana, 65% dos profissionais estão executando tarefas apenas para parecer ocupados.
Se antes vivíamos o fenômeno do presenteísmo, onde o profissional está fisicamente (ou virtualmente) presente mas emocionalmente distante, agora enfrentamos o ghostworking: além de desengajado, o colaborador finge produtividade e engana intencionalmente a liderança.
Ou seja, ele simula estar produzindo enquanto atualiza o currículo (24%), se candidata a outras vagas (23%), responde recrutadores (20%) e até participa de entrevistas (19%), de acordo com levantamento da LCONT.
Será que não chegou o momento de repensarmos o papel do trabalho em nossas vidas? Apesar de vivermos transformações profundas com o avanço da IA, das tecnologias e do trabalho do conhecimento, seguimos presos a modelos do século passado.
Em vez de abraçar a evolução, insistimos em retroceder: forçar o retorno total ao presencial, manter estruturas de comando e controle, exaltar a cultura workaholic, enfraquecer pautas de diversidade e perpetuar antigos privilégios.
No curto prazo, até pode funcionar. Mas definitivamente não é sustentável. Precisamos redesenhar um futuro do trabalho mais humano, com pessoas no centro, em parceria com a tecnologia, construindo relações de confiança, empatia e propósito.
Até quando vamos normalizar o ghostworking? Profissionais que fingem participar de reuniões, digitam qualquer coisa, mantêm planilhas abertas ou circulam com seus iPads apenas para encenar presença, enquanto líderes fingem não perceber, pois ainda medem performance pela “disponibilidade” e não pela entrega?
O trabalho pode ser parte de uma felicidade possível e sustentável.
Podemos construir algo mais justo, coerente e saudável. Rever o que é produtividade, repensar métricas e compreender que entregas e impacto importam mais do que horas conectadas.
Não é possível ser feliz fingindo produtividade como forma de protesto silencioso contra um modelo em que não acreditamos.
O trabalho pode ser parte de uma felicidade possível e sustentável. Pode nos oferecer realização, relações profundas e significado. Mas, para isso, será necessário encarar conversas difíceis, amadurecer visões, falar sobre direitos e deveres e co-criar novos caminhos.
A mudança não será imediata nem simples, mas é urgente experimentar, inovar e reconstruir. A dor já existe para os profissionais, para as empresas e para a sociedade como um todo. O futuro que desejamos precisa começar a ser construído agora.
Você está se preparando para ele?



