Autora diz que bem-estar no trabalho é necessidade básica, não luxo para poucos
- Renata Rivetti

- 21 de set.
- 3 min de leitura
Em 'O Poder do Bem-Estar', Renata Rivetti recorre à psicologia positiva para criar um guia para lideranças
Repensar o modelo atual inclui rever processos e formas de mensurar resultados, ela afirma

O mercado de trabalho atual tem sido marcado pelo crescimento do emprego informal —a "uberização" das profissões—, funcionários insatisfeitos e aumento dos casos de burnout. Segundo dados da Associação Nacional de Medicina do Trabalho (Anamt) divulgados pela Fiocruz, a síndrome do esgotamento profissional (burnout) acomete 30% das pessoas ocupadas no país.
Diante dessa realidade, a administradora especialista em estudos da felicidade e em psicologia positiva Renata Rivetti propõe repensarmos o modo como trabalhamos. Em seu livro "O Poder do Bem-Estar" (Objetiva), ela oferece um guia prático para que líderes possam reformular a cultura do ambiente de trabalho, tornando-a mais humana e empática.
"A minha proposta é rever o modelo de trabalho porque ele não está funcionando", diz. "Rever processos, formas de mensurar resultados, ter conversas difíceis, e nem todo líder está a fim de tudo isso."
Rivetti avalia que muitas empresas e pessoas resistem a um novo modelo de trabalho principalmente porque não é fácil olhar para uma estrutura e cultura estabelecidas e propor reorganizar todo o processo. Para ela, porém, a crise que vivemos é estrutural, de uma sociedade que gera pressão, sobrecarga e cansaço.
A especialista afirma que ainda se premia e valoriza o comportamento workaholic, que coloca o trabalho como centro da própria vida. "A gente pensa muito: qual a minha responsabilidade no meu bem-estar? E a gente tem um papel importante", diz. "Mas, o burnout, por exemplo, é uma doença ocupacional, o indivíduo não pode ser responsabilizado por ela."
O que acontece, segundo Rivetti, é que as empresas encaram o bem-estar e a saúde mental como itens de luxo, não como necessidades básicas. Uma necessidade básica, ela explica, inclui equidade, inclusão e pertencimento, aspectos fundamentais para uma cultura de felicidade corporativa.
"Eu acho que as empresas se voltam para o comando e o controle porque é o conhecido e é mais fácil", afirma. "Essa ilusão de que eu preciso ficar mensurando é [sintoma de] uma cultura que a gente construiu de medo, de falta de confiança e também de imaturidade dos colaboradores."
Isso, diz Rivetti, tem origem em duas grandes crises que estamos vivendo. A primeira é que o trabalho deixa de ser uma fonte de realização e significado. Se o funcionário está fingindo produtividade, sentindo que o que faz é um fardo, ele não está feliz.
A segunda é o cansaço de cultivar relações e vínculos, de ter momentos de lazer e descanso que sejam realmente intencionais. "Temos que ter uma discussão sobre como a gente, como sociedade, perdeu um pouco o que de fato importa na vida."
Assim, voltamos à discussão de que é preciso ter o básico para sobreviver: um ambiente de trabalho digno e que traga segurança. Isso vale tanto para o debate sobre emprego informal quanto para discussões a respeito de uma flexibilização do modelo CLT.
Rivetti lembra que o Brasil ocupa o 36º lugar no ranking de felicidade da ONU. Os indicadores usados para o ranking não contemplam apenas a melhora do PIB ou da economia em geral, mas também a percepção de suporte social. Ou seja, vínculos e relacionamentos.
"A gente tem que olhar como sociedade, não no curto prazo, mas algo mais sustentável, revendo o impacto que as empresas têm nas pessoas", afirma.
Como fundadora da Reconnect Happiness at Work and Human Sustainability, a autora é responsável por implementar no Brasil o piloto da semana de quatro dias de trabalho, prática ainda vista com receio por empresários, mesmo que pesquisas mostrem que o modelo faz bem à saúde e melhora o bem-estar no trabalho.



