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Valor Econômico - A “fadiga do Zoom” é real, diz pesquisa

Estudo baseado em exames cerebrais e cardíacos indica que videoconferências são mais exaustivas do que reuniões presenciais




Com a consolidação, desde o início da pandemia, das videoconferências como ferramenta de contato entre as equipes de trabalho, a fadiga causada pelas conversas on-line deixou de ser uma mera suposição. De acordo com uma pesquisa que acaba de ser publicada no portal de divulgação científica "ScientificReports", ligado à revista "Nature", reuniões a distância são mais exaustivas do que os encontros presenciais.


A tese é defendida por um grupo de pesquisadores da Universidade de Tecnologia de Graz

e da Universidade de Ciências Aplicadas de Steyr, ambas na Áustria. Depois de analisarem uma série de exames cerebrais e cardíacos, os estudiosos relatam ter encontrado evidências neurológicas de que as videoconferências são mais cansativas para os profissionais do que os encontros “olho no olho.”


Durante o estudo, os cientistas acompanharam 35 universitários que tiveram a atividade cerebral e cardíaca medidas por meio de eletrodos fixados na cabeça e no peito, enquanto assistiam a uma palestra de 50 minutos. Dezoito alunos acompanharam a apresentação presencialmente, enquanto 17 a viram por meio de videoconferência. A idade média do grupo era de 24 anos.


“Descobrimos mudanças significativas em relação à fadiga”, afirmou Rene Riedl, da Universidade de Ciências Aplicadas de Steyr, durante a divulgação dos resultados.


De acordo com o professor, os exames indicaram que a videoconferência causou níveis mais elevados de fadiga, tristeza e desatenção nos voluntários que seguiram esse formato do que entre os participantes das palestras presenciais.


“Houve diferenças ‘notáveis’ entre os grupos”, garantem os pesquisadores, sem cravar os percentuais de diferenças encontrados. “A fadiga dos alunos que acompanhavam o evento por vídeo aumentou ao longo da sessão e as análises cerebrais mostraram que eles estavam ‘lutando’ para prestar atenção.”


O humor dos voluntários também variou, segundo os autores. Os indivíduos no ambiente “ao vivo” se sentiram mais animados, felizes e ativos, enquanto os colegas remotos disseram que estavam “cansados, sonolentos e entediados.”


Pausas necessárias


A orientação dos estudiosos para combater os problemas observados é realizar “paradas” durante os compromissos virtuais e não elegê-los como prioritários nos expedientes – a adesão às reuniões virtuais escalou nos últimos anos.


Segundo um levantamento dos pesquisadores, apenas na plataforma Zoom, o número de usuários mensais passou de 71,6 milhões em dezembro de 2019 para 1,9 bilhão em abril de 2020, atingindo a máxima histórica de 2,8 bilhões em outubro de 2020.


Em março de 2023, a quantidade de visitas mensais ao sistema, que se assemelha a ferramentas como Google Meet e Microsoft Teams, foi quase 13 vezes maior do que o número registrado antes da pandemia, em dezembro de 2019.


“Com base nas conclusões da pesquisa, recomendamos uma pausa após 30 minutos de conversa virtual e maior atenção para considerar a videoconferência como um complemento à interação ao vivo, não uma substituta”, diz.

Equilíbrio delicado


Na visão do especialista em saúde do trabalho Alex Araújo, CEO da 4life Prime, da área de segurança ocupacional, definir intervalos “sem telas” a cada hora pode ser uma boa estratégia para combater a “fadiga do Zoom”.


“Essas pausas podem incluir exercícios de alongamento e técnicas de respiração profunda”, diz. “Isso permite relaxamento físico e mental.” Também é importante adequar o ambiente de produção conforme orientações de ergonomia, luminosidade, clima e bloqueio de ruídos, além de estipular horários para o início do trabalho, o almoço e o final da jornada, completa.


Para quem opera a distância e precisa usar, diariamente, as facilidades de contato por vídeo, Araújo recomenda disciplina nos agendamentos.


“Defina um tempo para abordar determinados assuntos”, diz. “Mesmo que a empresa seja 100% remota, realize encontros ‘físicos’ para estimular o senso de pertencimento da equipe, a geração de vínculos e de um ambiente mais amistoso.”


A conexão caiu


Para o psiquiatra Arthur Guerra, cofundador da Caliandra Saúde Mental, de soluções de cuidados e treinamento de lideranças, o cansaço resultante do uso excessivo de programas de comunicação ocorre porque a ação exige muito mais das atividades cerebrais dos participantes do que um encontro presencial.


“É comum sentir ardência nos olhos, desconforto corporal e irritabilidade”, afirma. “Na comunicação on-line, estamos sujeitos a falhas tecnológicas [como a interrupção nas chamadas], que podem elevar o nível de estresse.”

Para driblar o quadro de exaustão, a orientação do especialista é limitar o número de apontamentos ao dia e não esquecer do “autocuidado”. “Garanta tempo para se levantar da mesa, beber água e se preparar para a próxima rodada”, ensina. “Evite a exposição às telas durante as refeições e antes de dormir.”


Agenda on-line


Renata Rivetti, diretora da Reconnect Happiness at Work, empresa especializada em felicidade corporativa, chama a atenção para o excesso de reuniões nem sempre fundamentais para o andamento do expediente.


“Pesquisas mostram que 70% das reuniões são improdutivas e 73% dos participantes estão fazendo outras coisas durante as apresentações”, diz ela, citando estudos da Harvard Business Review e da companhia de software australiana Atlassian. “Grande parte das agendas é mal administrada.”


A recomendação de Rivetti é que chefias sigam três dicas para dinamizar as reuniões a distância:


  1. Em agendas com muitos temas e participantes, eleja um profissional responsável para seguir a pauta, detalhada previamente, e organizar os tópicos do debate on-line;

  2. Convoque poucos colegas e foque especialmente nos tomadores de decisão relacionados ao assunto em questão;

  3. Crie uma ata final, com as decisões tomadas e os próximos passos do trabalho a ser concluído.

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