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Cinco perguntas para Renata Rivetti sobre felicidade no ambiente de trabalho.


Segundo a Harvard Business Review, colaboradores felizes aumentam em 31% sua produtividade, 37% suas vendas e são 3 vezes mais produtivos.


Você chega em sua empresa, uma mesa de frutas e guloseimas, uma torneira com chopp à vontade após às 18h. A área de convivência tem puffs, escorregador, piscina de bolinhas. Felicidade? Seu gestor faz cobranças constantes e não te dá qualquer reconhecimento, o seu pagamento está abaixo do mercado e o trabalho é essencialmente presencial – podendo tranquilamente ser realizado de maneira remota. Você, ainda assim, se consideraria feliz? Certamente não.


Dois terços das pessoas buscam um trabalho que traga realização, satisfação e significado, de acordo com a empresa de pesquisa Gallup.


Renata Rivetti, especialista em felicidade corporativa e Fundadora da Reconnect, empresa voltada também para Felicidade Corporativa e Liderança Positiva, conversou com a Revista The President sobre felicidade corporativa. Rivetti possui especializações no Brasil e no exterior sobre felicidade no ambiente de trabalho e é a pessoa ideal para tratar do assunto. Em sua entrevista, destacou a diferença entre satisfação e felicidade e trouxe posicionamentos importantes sobre inclusão.


Por Raphael Calles

The President - Você possui uma formação tradicional: graduação em Administração pela FGV. Como o conceito de felicidade no trabalho despontou em sua vida?


Renata Rivetti - Quando saí da FGV-EAESP virei trainee de uma grande multinacional e por anos atuei na área de marketing. Gostava do que fazia, tinha reconhecimento, e o tal "sucesso", porém sentia falta de trabalhar com algo que tivesse mais sentido para mim e para o que queria construir na vida. Fui em busca de formações que me trouxessem autoconhecimento e neste caminho descobri que existia uma ciência da felicidade e do bem-estar. E o mais importante, não eram cursos de autoajuda ou promessa de milagres, mas acadêmicos de Harvard, Universidade da Pensilvânia, entre outras universidades renomadas, que estavam estudando a questão chave do ser humano: o que pode nos trazer uma vida mais feliz.



Para você, o que é felicidade corporativa?


As pessoas são felizes no trabalho quando elas têm um trabalho significativo, desafiador e quando se sentem empoderadas, valorizadas, reconhecidas e têm relações positivas. Um ambiente legal, colorido, programas de bem-estar, festas, brindes, um kit de onboarding são ótimos, mas realmente são fatores que geram satisfação e não felicidade. Sem eles as pessoas reclamarão, mas somente tê-los não garante a felicidade. É preciso então focar no trabalho da pessoa e nas relações da empresa. São esses dois fatores que atuam na felicidade corporativa.



Trabalhar com o que traz felicidade é um conceito muito mais ligado às gerações mais novas: Y (millenials) e Z. Como é possível implementar este conceito de felicidade corporativa em empresas com gestão tradicional e líderes mais velhos?


Primeiro é preciso conscientizar os líderes de que felicidade corporativa tem a ver com o trabalho de seus times e com ambientes mais saudáveis. E as pessoas gostarem do que fazem e se sentirem valorizadas não deveria ser algo superficial e sim esperado por todas as gerações. Não estamos falando em aceitar tudo, em deixar de focar em resultados, ao contrário, pessoas que gostam do que fazem, sentem significado em seus trabalhos e se sentem valorizadas geram mais resultado em todos os aspectos. Segundo a Harvard Business Review, colaboradores felizes aumentam em 31% sua produtividade, 37% suas vendas e são 3 vezes mais produtivos. No final, é mais barato investir nesta conscientização e mudança de hábitos dos líderes.



Qual o desafio de levar o conceito de inclusão de minorias para as empresas? Encontra resistência de colaboradores e consumidores?


Primeiro, é preciso aceitar que o mundo mudou. Respeitar as minorias não é mais opcional e sim obrigatório. As novas gerações têm mudado o status quo e mostrado que você não precisa se identificar com alguém, mas precisa respeitar todas as pessoas. No final, sinto que ao se abrirem para essas novas perspectivas muitas empresas entenderam já o ganho que podem ter com essa diversidade, que amplia o olhar e dimensão da empresa. É muito mais fácil ser inovador com pensamentos distintos. Segundo relatório da McKinsey, empresas que atuam com diversidade tem probabilidade 93% maior de superar a performance financeira de seus pares na indústria.


Porém, algo essencial, é preciso verdade nesta construção. Fazer somente marketing da diversidade pode ir contra tudo o que a empresa espera. A geração Z exige verdade e busca trabalhar em empresas que tenham a ver com seus valores. Se a empresa se mantiver alheia a estes temas, estes jovens não só deixarão de trabalhar nela como deixarão de consumir desta empresa. A mudança então é urgente e obrigatória.



A pandemia permitiu a inserção de novos formatos de trabalho, principalmente o home office, em que os colaboradores poderiam trabalhar de casa, com maior flexibilidade e disponibilidade para se dedicarem a atividades que poderiam trazer maior felicidade. No entanto, com a recente flexibilização, muitas empresas voltaram a adotar o formato presencial, mesmo que os serviços pudessem ser executados remotamente. Qual sua recomendação para estes gestores? E para os funcionários, que acabaram por perder tal flexibilidade?


É preciso que as empresas ponderem antes de definir um modelo e simplesmente obrigarem os colaboradores a seguirem o que foi definido. Aprendemos muito nos últimos anos e não dá para voltar à 2019. Retornar ao escritório de forma integral, 5 vezes por semana, é um grande risco, pois o mercado mudou e as pessoas priorizaram sua saúde mental e qualidade de vida. Antes da pandemia não havia tantos questionamentos. Trabalho era necessário para pagar nossas contas, independentemente do que me causava emocionalmente. Agora, as pessoas mudaram suas vidas, priorizaram outros aspectos e trabalho deixou de ser a fatia tão grande. Segundo o Gallup, 66% das pessoas querem um trabalho que traga mais realização, satisfação e significado.


Então, os líderes precisam mudar suas concepções e suas relações e chegar no melhor modelo para todos. Não dá para atender os anseios de todos da equipe, mas não dá para não ouvi-los também.


E para as pessoas que perderam a flexibilidade, acredito que ideal, antes de tudo, avaliar o mercado, olhar as vagas e ver se há flexibilidade em sua área de atuação. Se for mesmo uma prioridade da pessoa, se preparar e fazer a mudança necessária, caso a empresa não abra espaço para a conversa e negociação.

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