Especialistas afirmam que prática pode diminuir absenteísmo e aumentar a produtividade dos funcionários
O mercado de trabalho oferece cada vez mais desafios para empresas e funcionários. No período pós pandemia de Covid-19, diversos novos temas ganharam relevância como o home office e a saúde mental dos funcionários.
Uma das práticas que buscam dar mais qualidade de vida aos trabalhadores é a jornada de trabalho reduzida. A semana de quatro dias começou sendo implantada na Nova Zelândia e, aos poucos, está chegando na Europa. Até mesmo no Brasil o debate já começou e algumas empresas já estão adotando a redução da jornada sem redução de salários.
“Não é simplesmente tirar a sexta, mas sim revisar a forma de atuarmos e ver o que pode ser redesenhado e melhorado para sermos mais produtivos em menos tempo de trabalho”, disse especialista em felicidade corporativa e diretora da Reconnect Happiness at Work Renata Rivetti, que é advocate 4 Day Week Global no Brasil.
A modalidade mais comum da semana de 4 dias é cortar a sexta ou a segunda-feira, mas outras podem ser adotadas como o trabalho em meio período em dois dias ou a folga distribuída no meio da semana.
Prática não melhora a saúde mental sozinha
De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), o Brasil é o país com mais pessoas ansiosas no mundo, com 9,3% da população. A especialista em Recursos Humanos, Empreendedorismo e Negócios, Alice Salvo Sosnowski, aponta que problemas de saúde mental são os principais vilões da produtividade no trabalho e das empresas e a jornada reduzida tem sido uma das alternativas para melhorar essa situação.
“A satisfação geral do funcionário com as atividades e o aumento do seu bem-estar físico, emocional e mental se traduz em mais concentração, criatividade e inovação para as empresas. Outro ponto importante é a queda nos níveis de absenteísmo – a falta de pontualidade e assiduidade – e presenteísmo – quando o funcionário comparece ao trabalho, mas não consegue se dedicar às tarefas –, além de uma maior produtividade” apontou.
A psiquiatra Camila Magalhães, que é cofundadora da Caliandra Saúde Mental, concorda que a jornada mais curta pode colaborar com a melhora da saúde mental, mas alerta que essa atitude não pode ser tomada sozinha.
“Uma redução da jornada de trabalho pode ser uma alternativa muito eficaz para diminuir o estresse e esgotamento emocional dos colaboradores, desde que bem conduzida. Não adianta adotar essa prática, mas exigir que os colaboradores atuem incansavelmente durante os quatro dias já que terão ‘um dia a mais para descansar’, explicou.
Resultados no Brasil
Algumas experiências já começaram a ser feitas no Brasil. Uma das empresas que adotaram a jornada de trabalho de 30 horas semanais é a Experta, que atua na área de marketing digital com foco em SEO. A iniciativa começou pensando, principalmente, na jornada dupla de trabalho das mulheres: no escritório e em casa.
“Sempre achamos indigno mulheres terem de escolher entre a maternidade e a carreira e serem descartadas por conta do etarismo ou de outras demandas familiares que acabam recaindo sobre nós”, relata a COO, Viviane Camargos. “Queríamos universalizar o acesso ao trabalho para essas mulheres, acolhendo suas demandas. A forma que encontramos de fazê-lo foi por meio de adoção de jornada de trabalho reduzida, flexível e 100% remota”.
Os resultados estão se mostrando positivos e Camargos afirma que o clima no escritório melhorou e o nível de turnovers caiu a quase zero.
A analista financeira e administrativa Camila Crizanto trabalha na empresa desde novembro de 2020 e, por conta da carga horária de seis horas diárias e flexibilidade na jornada, teve mais tempo para cuidar da filha.
“Minha filha tinha dez meses e, até aquele momento, eu havia me dedicado exclusivamente a ela. Passar longos períodos longe não seria possível”, relembra.
Outra empresa que adota uma jornada de trabalho diferente é a startup de viagens Hurb, que adotou o meio período nas sextas-feiras.
Experiências pelo mundo
Um país que adotou nacionalmente a jornada reduzida sem a diminuição no salário foi a Islândia.
A experiência foi conduzida pelo governo nacional em conjunto com a Câmara Municipal da capital Reykjavik entre os anos de 2015 e 2019.
De acordo com o estudo, os resultados conquistados foram o aumento da produtividade e da satisfação dos trabalhadores. A medida foi ampliada para todo o território islandês e inspirou outras iniciativas ao redor do mundo.
Em dezembro de 2022, o governo da Espanha anunciou a criação de um projeto-piloto para testar a semana de trabalho de quatro dias em empresas do setor industrial. A princípio, a iniciativa terá duração de dois anos para que sejam avaliados os resultados.
Como mudar a mentalidade das empresas?
Rivetti dá algumas dicas para que empresas possam começar a implantar medidas menos conservadoras em relação a jornada de trabalho:
Entender que o mundo mudou muito em 100 anos e a tecnologia trouxe novas formas de atuarmos e de produzirmos. Será então que não está na hora de rever nossas jornadas de trabalho e nos adaptarmos para essa nova realidade global?
Inclua as pessoas para co-criarem esta política. Ela vai precisar do engajamento e dedicação de todos.
Mudança na postura do gestor. O mercado atuou por muito tempo com comando e controle e microgerenciamento e acreditou que esse era o modelo de resultados. Antes da pandemia poucas empresas faziam home office e a maioria dos líderes não acreditava no modelo. Hoje temos certeza de que é super possível ser produtivo no home office e que o modelo traz mais benefícios do que perda de resultados. A jornada de 4 dias passará por esse mesmo caminho. Há céticos, mas os resultados mostram que o modelo funciona e traz benefícios e resultados para as empresas, mas também aos indivíduos e nós como sociedade.
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