Melhor RH - A gestão de Elon Musk ainda funciona?
Atualizado: 13 de jun.
A forma de o executivo atuar, impondo comando e controle, medo e muitas horas trabalhadas já foi considerada uma fórmula de sucesso.
Artigo publicado no Mundo RH em 01 de dezembro de 2022

Nesses últimos dias, temos visto algumas polêmicas envolvendo Elon Musk após a compra da rede social Twitter. O empresário demitiu mais de 1 milhão de funcionários e agora diz que quer repassar a administração da rede social, um absurdo, não é mesmo?
No entanto, a forma de Elon Musk atuar com comando e controle, medo e imposição de muitas horas trabalhadas, trabalho “hardcore”, certamente já foi considerada uma fórmula do sucesso de grandes líderes. Se para as gerações passadas banalizávamos o stress, ansiedade e a sobrecarga, neste cenário pós pandemia e mundo BANI, passamos a questionar esse modelo e a refletir mais sobre nossa saúde mental, bem-estar e felicidade. Se antes os profissionais aceitavam trabalhar nas empresas do sonho a qualquer custo, hoje isso já não é mais certo.
Quando comecei minha carreira, saindo de uma grande faculdade como a FGV-EAESP, lembro de achar normal excesso de trabalho, líderes tóxicos, ameaças e assédios, preconceitos. Era como se o trabalho fosse isso mesmo, um fardo que deveríamos aceitar para um dia conquistar a vida feliz e de sucesso, com dinheiro, status e poder. Havia profissionais buscando estágio sem remuneração somente para ter contato com um líder reconhecimento, com fama e poder. Para a Gen Z, segundo pesquisa do Google Consumer 2019, o sucesso vem para 33% deles através do negócio próprio e em segundo lugar, 19% através de um trabalho com causas sociais/ecológicas. Certamente para essa geração, trabalhar na base do comando, controle e assédio para um líder tóxico, somente por status e poder não é definição de sucesso.
Claro que ainda haverá profissionais idolatrando esse comportamento, mas no geral, o que vimos acontecendo no Twitter é uma resposta clara de que o mundo mudou: muitas pessoas pedindo demissão, mesmo neste cenário de grandes Techs demitindo. O medo já não impera mais e as pessoas estão priorizando sua saúde física, mental do que somente seu trabalho. O custo de um trabalho hardcore costuma ser alto índices de ansiedade, possibilidade de depressão e até burnout. Neste momento em que refletimos sobre a brevidade da vida, o custo para muitos é muito alto.
Apesar de Musk ser um empresário de sucesso para nossa sociedade, já há muitos líderes que têm uma nova consciência e entendem que há sim um caminho mais sustentável para obtermos resultados. Se a fórmula proposta por Musk parece ter ganhos imediatos grandes, a verdade é que não há inovação e criatividade em um ambiente sem segurança psicológica. E a longo prazo ninguém mais quer ficar em uma empresa sem se sentir seguro, valorizado, reconhecido e sem confiança e flexibilidade. A fórmula do sucesso de um líder, neste novo cenário, vem de construir um ambiente no qual as pessoas se sintam incluídas, pertencentes, relações empáticas e de confiança.
Algumas dicas para o líder construir um ambiente de segurança psicológica e times de alto desempenho:
Escuta ativa: as novas gerações querem ser ouvidas. Querem fazer parte da discussão, da estratégia, da construção do futuro da empresa. E isso traz diversidade às discussões e planejamentos, o que no final gera ideias, criatividade e inovação. O líder do futuro precisa construir um ambiente de segurança psicológica e criar espaço para ouvir as pessoas. Parece algo simples, mas é essencial e nem sempre realizado.
Celebrar mais as conquistas: os líderes podem celebrar mais as pequenas conquistas e realizações e não somente no final do ano. O time se engaja mais ao ter um direcionamento claro, com metas e objetivos que os desafiem e os motivem.
Desenvolvimento / treinamentos: as pessoas precisam sentir que estão se desenvolvendo, aprendendo e evoluindo. Isso traz o senso de realização.
Reconhecimento e valorização: reconhecermos e valorizarmos as pessoas com mais frequência e permanência. As pessoas são muito cobradas pelos resultados, porém na hora do reconhecimento acaba não acontecendo no dia a dia. Há várias intervenções neste sentido comprovadas pela Psicologia Positiva que podem ser aplicadas nas empresas.
Empatia: neste mundo em que vivemos com tantos desafios pessoais que encontramos o trabalho pode ser um local seguro em que me sinto acolhido. Podemos ser mais empáticos uns com os outros. Isso aumenta nosso engajamento e traz um senso de pertencimento, inclusão e motivação.
Flexibilidade e autonomia: muitos profissionais passaram a priorizar novos valores e um deles é aumentar a qualidade de vida e conciliar melhor vida profissional e pessoal. O líder pode construir relações de confiança e medir resultados e entregas do que somente horas trabalhadas.