Renata Rivetti afirma que as modalidades atuais já se mostraram insustentáveis e, portanto, é necessário discutir novas formas de trabalho
As discussões sobre o fim da escala 6X1, em que o funcionário trabalha seis dias na semana e folga um, tomaram conta das redes sociais nesta semana. A proposta que ganhou destaque quer acabar com esse modelo ao adotar o trabalho de 4 dias na semana, modalidade testada no país por 19 empresas no começo deste ano.
Os modelos atuais já se mostraram insustentáveis e, portanto, é necessário discutir formas de trabalho mais flexíveis, na avaliação de Renata Rivetti, fundadora da Reconnect Happiness at Work, empresa parceira da 4 Day Week Global, organização à frente dos projetos-pilotos da jornada de trabalho de quatro dias.
“Acho que é uma discussão muito profunda. O que a gente pensa como sociedade? O que a gente acredita? Que está na hora de rever e ressignificar o trabalho. Porque hoje a gente entende que ele não é saudável. Ele é insustentável. As pessoas estão adoecendo. As empresas também vêm perdendo resultados”, afirma. “Acho que é um caminho sem volta a gente começar a falar de modelos [de trabalho] mais flexíveis e saudáveis”, diz.
Rivetti conta que no piloto feito no Brasil, as companhias participantes eram voltadas para o trabalho intelectual, ou seja, não eram de varejo e comércio, por exemplo, que são as empresas que mais seriam afetadas com o fim da escala 6x1. Por isso, a embaixadora da semana de 4 dias defende mais testes em outras áreas.
“O piloto é justamente para isso: ver o que acontece com a nossa economia e com as pessoas nesse novo cenário aqui no Brasil”, diz. “Como sociedade, em vez de negar a mudança, devemos ver como é que a gente abraça a mudança e começa a discutir novos caminhos. O que fazer também com as pessoas que têm um trabalho hoje numa fábrica? A gente já deveria estar, de forma mais proativa, discutindo essas mudanças, e não combatendo e falando que a pessoa tem que trabalhar as seis vezes por semana sem questionar, pois hoje elas estão adoecendo,” afirma.
Para Rivetti, a discussão pode, inclusive, levar a algum meio-termo nas propostas. “Pensando no curto prazo, eu acho que vai ter que chegar no meio do caminho. De fato, não dá para sair da escala 6x1 para 4x3 em todos os segmentos. Provavelmente a gente vai ter que chegar em um caminho que seja meio-termo”, diz.
A possível mudança nas jornadas de trabalho envolveria não só as grandes empresas, mas também pequenos negócios, que fazem, muitas vezes, contratações já no limite de seu orçamento. Para Rivetti, o poder público também terá que ter responsabilidade sobre esses empregadores. “Quando a gente está falando de pequenas e micro empresas, precisaremos ter um cuidado, e acho que a área pública tem que ter uma responsabilidade também”. Ela afirma que nos testes da semana de 4 dias em Portugal, por exemplo, a parceria foi feita com o Ministério do Trabalho, não com uma empresa privada, o que mostra uma preocupação do governo e uma vontade de testar o modelo.
“Tem que ter uma cautela na mudança com o apoio da área pública. Não adianta o governo falar: 'agora todo mundo é obrigado a fazer essa nova escala'. Acho importante, sim, ter uma área pública revendo impostos, os benefícios e como isso vai ser feito para ser produtivo também para grande parte das empresas que são pequenas”, afirmou. “Acho que essa discussão é profunda e a gente tem que pensar em todos. O modelo vai, sim, precisar de um olhar mais amplo e de cautela na implantação, para que a gente faça da melhor forma e que seja positivo para todos”, diz.
Para Rivetti, os testes da semana de quatro dias e proposta do fim da escala 6x1 com mudança na jornada dos brasileiros são temas que caminham em paralelo. No caso do piloto, a proposta é trabalhar melhor e não perder resultados com um olhar de como acabar com a improdutividade. Na nova proposta, a discussão é que as pessoas precisam descansar. "São dois temas que caminham abrindo novas possibilidades, e a única certeza que a gente tem é que precisamos discutir o futuro do trabalho de uma nova forma", conclui.
Proposta consegue assinaturas para ser discutida no Congresso
No dia 1º de maio, dia do Trabalhador, a deputada Erika Hilton (PSOL-SP) apresentou a PEC (Proposta de Emenda à Constituição) que propõe que o país adote a jornada de trabalho de quatro dias por semana, o que resultaria no fim da escala 6X1.
Nesta quarta-feira (13), a PEC atingiu o número mínimo de assinaturas de parlamentares e já pode tramitar. Mas, por se tratar de uma mudança na Constituição, a proposta ainda precisa percorrer um longo caminho no Congresso para, de fato, começar a valer.